sábado, 22 de dezembro de 2018


Muitos sonhos para tao altos muros...la de cima despencavam-se corpos vazios cheio de realidades... cimentados pela indiferença.. empalados pela lança dourada de um mundano deus... Do chão escarlate escorria um lamurioso mar... Onde sereias ecoavam seu canto mistico.. Mitos, ritos, hinos sem espírito, a desenganada odisséia de Ulisses sem lar..
Um anticeu criado pelos donos de sapatos dourados.. Neste avesso de terra, que se enterra ou desterra, vendem-se pedaços de infernos - do mais desertico ao mais coloridos, inebriantes e publicitarios...
Por moedas de lata se tornam seres de isopor..e num afã compram-se a si mesmos em prateleiras do mesmo..
E com velas rasgadas seguem rumo ao ao desolado Nada...

B.G

Jovem...
Arranha, abraça, enlaça e beija tanto o presente e com tal ardor que este arde e transpira eternidade

Na impulsividade de viver o agora não planeja o amanhã nem pensa no ontem. Vive as aspirações do presente que sempre o presenteia com uma nova experiência

O primeiro beijo, o primeiro amor. A primeira mostra de realidade em um mundo que até então era de sonhos e descobertas. O mundo mágico cede espaço a um contraste que teria muito menos brilho se não fosse por aquela magia da imaginação das crianças. Dai então o tempo cede espaço as confusões provocadas pelo próprio corpo e por um mundo que insiste em estar errado. A paixão de mudar o mundo toma conta. "Nada me para", penso. Nem mesmo aquele contraste q insiste em perder o brilho. Uma nova paixão e a vida retoma suas cores quentes e vivas. Aquele modo de tela frio e azulado é substituido pela estonteantes cores de vênus. O encanto se restabelece, a vida retorna ao seu lugar de direito.

Jovem 

O malicioso vento das saias de Marilyn Monroe
A vivacidade dos olhos de um certo pescador de Hemingway...
Os tênis desgastados em comunhão com a Terra..
Na pele da alma o beijo natural de Drummond
Duas taças de vinho encharcadas de céu..
Um relógio entediado que aspira a ser quebrado..

Um verde éden isolado por muros..
A fobia que grita quanda enjaulada por chaves dogmáticas
Um feixe colorido num prisma de vidro rachado..
O fragmento lamurioso de um violoncelo apaixonado..
Os acordes vibrantes de uma guitarra  que nos faz partir a alma..
Um trem mágico descarrilhado indo em direção ao firmamento..

Jovem é colcha de retalhos.. mistura e costura de cabelos aos vento, sardas no rosto, poesia nos olhos, rubor sem causa, vermelho na boca, ideal na alma, pés com asas, chutes no muro, enfado fático, um real pintado de sonho, um paradoxo constante..

É aquele que corre o dia inteiro em busca de si mesmo
E que foge daqueles que o procuram...

Texto solto sobre a juventude. Feito por Gustavo Camargo e B.G










segunda-feira, 11 de julho de 2016

quinta-feira, 26 de março de 2015

Hastag #Podemos deixá-la no breu, se achar melhor








Apesar de nós brasileiros estarmos pagando contas altíssimas de energia, parece que as sombras sempre arquitetam contra a luz. Os gaviões do poder – se não abutres – de longe sempre farejam o cheiro do pensamento crítico. Coincidência, ou não, vale a metáfora, já que a UnB estava complemente as escuras quando recebeu Luciana Genro, do PSOL. Seja ela, ou qualquer pessoa que tente abalar a estrutura promíscua do poder, o velho alarme sempre ressoa - numa clara tentativa de silenciar a razão. 


Quando certas palavras tocam nos pontos nevrálgicos do país, coincidências como essa sempre ocorrem. Seja falta de luz, falta de tempo, microfones silenciados, cortes de frases por editores (vide a hashtag #PodemosTirarSeAcharMelhor), horários reduzidos,  e espetáculos ou violência a parte, tudo parece conspirar contra aqueles que estão imbuídos pelo espirito da mudança. 


Em busca de um caminho


Apesar da escuridão e do espaço reduzido, mais de 300 pessoas forçavam os ouvidos para escutar alternativas que de fato ressoassem nas causas sociais.  As palavras de Luciana e de todos que debateram na noite passada (Rafael Madeira, candidato a Deputado Federal nas últimas eleições pelo PSOL e Luiz Araújo, presidente nacional do partido), longe de serem levianas (como diria Aécio Neves), foram por demais verdadeiras.


Em seu discurso, Luciana Genro pontuou ser imperativo os jovens tomarem as rédeas do presente. Destacou as inquietudes da juventude, hoje sujeita a uma violência silenciosa que assola nosso país e bate quase sempre na porta dos mais pobres. Que todos saibam que por ano cai como se fosse uma bomba atômica no Brasil – e esta faz mais 55 mil vítimas por causa dos homicídios. 


Foco na transformação. 


Sendo uma clara oposição de esquerda no governo, Luciana de praxe não mediu palavras para blindar ninguém. Pelo contrário, lembrou do gesto opressor de Aécio Neves durante a campanha, onde inúmeras vezes levantou o dedo para ela – uma mulher - e disse em alto e bom som que as mulheres não podem, nem devem se sujeitar a “dedos na cara”. Com isso, instigou o movimento feminista a continuar e fortalecer a sua luta, no sentido de garantir os direitos da mulher e seu papel nessa sociedade por deveras machista. 


Ao longo de sua fala, Luciana pontua que o “projeto de Aécio”, apesar dele não ter ganho, acabou sendo implementado pelo próprio PT. Sublinha que a comida sumiu de fato das mesas dos brasileiros, que a luz e a gasolina aumentaram e que os ajustes este ano cortaram as áreas sociais, sendo que a mais atingida foi à educação, que acabou perdendo mais R$ 7 bilhões. “ ─ Isso tudo ocorre hoje porque o PT se entregou há muito tempo aos interesses neoliberais”, insinua ela, complementando que o PT não representa mais a esquerda, mas tornou-se um partido de gabinete, de parlamentares e cargos de confiança comprados. “O PT hoje distribui ao povo as migalhas da mesa farta do poder. O partido vive e respira só o poder”, diz Luciana, destacando que o ideal (antigo) do Partido dos Trabalhadores, foi barateado e comprado pelos senhores de sapatos dourados, em prol da causa neoliberal. 


De baixo de uma lona fervilhante, ela criticou as relações promíscuas das empreiteiras com a política; taxou as eleições de serem hoje completamente viciadas; e afirmou que a grande mídia – capitaneada pela Rede Globo – é uma verdadeira prostituta do sistema liberal.   Em sua fala, ela lembrou que Aécio e outros personagens como a ministra Kátia Abreu e o senador José Agripino Maia (DEM-RN), fortalecem medidas reacionárias que vão na contramão dos interesses sociais. 


Por fim, e ainda as escuras, ela estimula os estudantes a contribuírem com as lutas sociais e os incita a demandarem do governo um maior fortalecimento dos mecanismo de participação direta da sociedade na política. Sua palavra, de todo, tentou vocalizar esta luta, que, de acordo com ela, colocará a baixo a estrutura política do país, que há muito se deita com o capital.


Não se deve dobrar pelo poder


Sobre as manifestações do dia 15 de março, diz que a maioria estava imbuída de sentimentos direitistas, justamente por estes não conseguirem enxergar que existe uma oposição de esquerda – “que de fato busca fazer uma transformação no país”. Para Luciana Genro, um partido deve ser “uma caixa de ressonância, um espelho limpo que reflita as demandas sociais”.


Os demais palestrantes fizeram discursos em consonância com o de Luciana. O professor da UnB e atual presidente nacional do PSOL, Luiz Araújo, apontou a vulnerabilidade dos trabalhadores, e diz que estes não têm mecanismos para se proteger da crise econômica. 


Propostas indecentes


Ele criticou ainda as pautas conservadoras – para não dizer perigosas – do presidente da Câmara dos Deputados, o nefasto Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que vem tirando da gaveta pautas absurdas como: a da liberação de transgênicos; a da PEC 215, que transfere da União para o Legislativo a competência na demarcação de terras indígenas e possibilita a revisão das demarcações. Importante destacar também que Cunha vem ainda engavetando textos como o Código da Mineração, que busca cobrar mais impostos do setor mineral e condicionar a exploração do solo brasileiro a licitações prévias; e ajudando a bloquear a criação da CPI dos Planos de Saúde.


Fora isso, no cabedal de decisões vergonhosas neste começo de ano, Cunha saiu na frente também ao anunciar em fevereiro a autorização do pagamento de passagens para mulheres de parlamentares, sem contar os inúmeros benefícios que liberou em favor destes. Numa época de grave crise econômica – no qual o mais óbvio seria enxugar a gastança e diminuir, como um todo, as mordomias para quem não precisa, ele aprovou também o aumento de todas as despesas com parlamentares, incluindo verba de gabinete, auxílio-moradia e cota parlamentar. 


Tanto o professor Araújo quanto Rafael Madeira, falaram sobre os cortes feito pelo governo, e dizem que as universidades, públicas ou privadas, vêm sentido muito os efeitos destes.  Rafael destaca ainda necessidade do governo taxar as grandes fortunas e se mostra totalmente contrário a redução da maioridade penal.


Em seus respectivos discursos, os três (Luciana Genro , Luís Araújo e Rafael Madeira) convocam os estudantes a irem as ruas contra a política neoliberal e não deixam de lembrar que hoje dia 26 de março – é o DIA NACIONAL DE LUTA PELA EDUCAÇÃO. 


A concentração aqui em Brasília, começa agora as 9h, ao lado da Biblioteca Nacional!


“Convocamos os estudantes a manifestar nas portas de todas as universidades públicas e privadas do Brasil contra os cortes do governos na área da educação!”

por Brunna Guimarães, jornalista e graduanda em filosofia, para O MIRACULOSO.

CONFIRA NO SITE http://www.miraculoso.com.br/brasil/412-hastag-podemos-deixa-la-no-breu-se-achar-melhor

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

O Brasil e suas bombas de Hiroshima






“A violência, seja qual for a maneira como ela se manifesta, é sempre uma derrota.”(Jean-Paul Sartre)


Todo ano cai uma bomba atômica silenciosa no Brasil, mas parece que somente o choro sofrido dos familiares das 56 mil vítimas de homicídio ecoa pelas esquinas e calçadas molhadas de sangue jovem.   ─ O pranto do povo brasileiro implora para ser ouvido pelo indiferente Estado! É fato que uma epidemia de violência assola nosso país. Por dia, no Brasil, morrem cerca de 160 pessoas vítimas de homicídio - um Carandiru diário! A média anual de homicídio, em nosso país, é maior que a de vítimas de enfrentamentos armados no mundo. Entre 2004 e 2007, 169 mil pessoas morreram nos 12 maiores conflitos mundiais. Já no Brasil, o número de mortes por homicídio no mesmo período foi 192 mil, subindo para 212 mil vítimas nos últimos quatro anos analisados pelo Mapa da Violência. (2009 a 2012)

 A juventude brasileira corre risco

Algo está errado, enquanto comemora-se a redução das taxas de mortalidade das nossas crianças, estas mesmas crianças, crescem sujeitas a se tornarem mais uma vítima da violência que se agrava e ceifa a vida da juventude brasileira. Nos últimos trinta anos, os índices de mortalidade da juventude agravaram-se. De 1980 para cá, as taxas de homicídio cresceram vertiginosamente (132,1%), sem falar (Assim como a do suicídio) do aumento dos suicídios (56,4%) e óbitos em acidentes de trânsito (28,5%)

Esses dados são desalentadores, mas infelizmente só representam a ponta visível do iceberg de muitas outras formas de violência e indiferença que permeiam cotidianamente nossa sociedade. Enquanto os brasileiros vestem suas camisas verde-amarelas para assistirem a um jogo da Copa, uma centena vítimas veste a túnica da morte. 

Enquanto do sofá criticamos conflitos do outro lado do mundo, os municípios do arco do desmatamento amazônico são palco de interesses políticos e econômicos em torno de mega empreendimentos agrícolas que movimentam madeireiras ilegais, processos de grilagem de terras, de extermínio depopulações indígenas e de trabalho escravo. Enquanto acreditamos nas verborragias ditas no Congresso, currais políticos tradicionais do coronelismo são adeptos a à pistolagem. Enquanto são gastos rios de dinheiro todo ano para purpurinar bundas no Carnaval, milhares de meninas são vítimas do turismo sexual predatório. 

Nosso país ocupa a 7ª posição no conjunto dos 95 países do mundo analisados com maior taxa de homicídio. Segundo o Mapa da Violência de 2012, mais de 72 municípios brasileiros possuem taxas acima de 100 homicídios por 100 mil jovens, nível considerado já epidêmico. O estudo traz dados angustiantes nos quais revelam que os homicídios são hoje a principal causa de morte de brasileiros de 15 a 24 anos, atingindo especialmente jovens negros (71% pretos e pardos) do sexo masculino (92%), moradores das periferias e áreas metropolitanas dos centros urbanos.

A morte acompanha as mazelas sociais

O mais alarma é a tendência crescente dessa mortalidade seletiva, que escolhe a vítima pela cor de pele.  Destaque para os estados que possuem mais homicídios de negros: Alagoas fica com o sombrio 1° lugar de estado mais letal para os negros (200 homicídios por 100 mil jovens) e encabeçam a lista ainda o Espirito Santo, Distrito Federal, Pernambuco e Bahia. Sim o Distrito Federal!

Apesar das mulheres representarem apenas 8% do total homicídios, cabe pontuar que essas vêm sendo cada vez mais vitimadas. Anualmente, o número de mulheres assassinadas cresce 4,6% e, mais uma vez, a lista macabra de homicídios é composta em sua maioria por jovens. O Distrito Federal, neste quesito, aparece novamente praticamente no topo. 

Tais dados demonstram que o Brasil convive com uma espécie epidemia da violência, cujo caráter mais letal é tragicamente a indiferença quase cumplicidade de grande parcela da sociedade. Um cenário sinistro como esse o nosso deveria ser tratado como um verdadeiro caos social, mas diferentemente disso, o que vemos é um grau assustador de complacência do Estado em relação a essa tragédia. E como o sistema consegue isso? Simplesmente naturalizando a violência.

Brunna Guimarães Rodrigues, jornalista e graduanda em filosofia pela UnB.

Homem plástico



Engoliu tanto Vazio que entrou em coma
Comprou tanto que se vendeu
Estudou tanto e nada aprendeu
Trabalhou tanto, mas nada criou
Estranho homem esse,
Que faz tudo, menos o que o espirito quer
Que quer tudo, menos o necessário
Que rir de todos, mas não chora por ninguém
Estranho esse,
Que tem medo de morrer, mas se mata em vida
Que retém o dinheiro, mas joga fora o que de valioso tem
Que sonha os sonhos de todos
Que ama bonecos de plásticos
Que goza insatisfações
Estranho estranho
Por que acorda só para dormir?
Por que perde tempo com inutilidades?
Por que espera dos outros quando só esquenta o sofá?
Por que se maquia quando tua alma mal respira?
Aliás, por que respira? De que vale inspirar sem inspiração?
Por que procura pérolas em um mar de lama, afinal?
Saia da ficção que te impuseram
E se torne verdadeiramente real.

Beba vida!





Enquanto nossos olhos beijam vitrines e telas vazias a beleza do mundo vem sendo esquecida num canto qualquer.

Não deixe seu espirito partir, antes disso:

Abra a janela, rasgue a rotina, corra como criança, abrace arvores, se encharque de cachoeira, arrume as malas, doe e se doe, se desligue do que nada informa e forme seus próprios valores, saia da gaiola, voe alto, se lambuze com o que ama, leia bons livros, jogue fora preconceitos e julgamentos, sinta mais as pessoas, escreva teus pensamentos, agarre teus velhos sonhos,  e deixe para trás  ressentimentos, se surpreenda, descomplique, estude tua alma e não meras apostilas, ensine e aprenda aos montes, olhe mais para o céu e toque mais a terra, e o principal - se desconecte do que cheira a vazio, e beba mais alma!

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

tum tum tum...



tum tum tum...

Passamos a vida querendo escutar o som do nosso coração
Mas vida passa nos prendendo a ruídos
Corremos o dia inteiro em busca de nós mesmos
E NÓS mesmos fugimos daquele que nos procura
Acordamos para dormir
Dormimos para acordar
Enquanto isso nossa mente sonambula entre um e outro
tum tum tum tum..
Pegamos o azul quando queríamos o vermelho
E o vermelho vai para mão daquele que nada queria
Matamos nossas ficções com concretos de realidade
E o real vai se pintando de sonho
Acreditamos sonhar com os nossos sonhos
Quando muito..
dormimos


B.Guimarães

quinta-feira, 13 de março de 2014

PASOLINI: FALÊNCIA DA ESPERANÇA



Frustração ou verdadeira ansiedade neurótica são hoje estados de alma coletivos”. Pasolini



"Deixai toda a esperança, vos que entrais”, assim diz Dante Alighieri na porta do seu Inferno. Tal aviso, muito bem poderia ser remetido ao pensamento desesperançado de Pasolini frente à sociedade italiana do pós-guerra que ele exaustivamente diagnosticou como “enferma e deformada”. Para Pier Paolo Pasolini, que se tornou conhecido por suas denúncias políticas que, sem dúvida alguma, incomodaram os mais diversos grupos influentes de sua época, as gerações posteriores à guerra cederam aos imperativos do capitalismo e consequentemente tiveram seus valores triturados em prol dos interesses nefastos do sistema dominante.

Ao lermos alguns de seus últimos textos, fica claro que para Pasolini a “sua Itália” muito se assemelhava aos baixios do inferno, já que, segundo ele, esta vinha sendo tragada e consumida pelos valores burgueses. Para o crítico italiano, após a segunda Guerra Mundial “um atroz e estúpido desenvolvimento”, sem a alcunha do verdadeiro progresso, começou a suscitar novas formas de “delinquências” em seu país.
Em sua obra “Os jovens infelizes”, Pasolini traz inúmeros ensaios críticos acerca das consequências trágicas da sociedade industrial, que, para o desespero do escritor, passava a “falsa tolerância de um poder ainda mais terrível do que o fascismo”.  Para o autor, o horrendo modelo consumista imposto à sociedade italiana pela burguesia, era ainda mais violento que o fascismo anterior, justamente por ser capaz de afetar a consciência dos indivíduos. Ou seja, ao longo dos ensaios pasolianos, conhecidos como escritos corsários, Pasolini demonstra o quanto o “progresso de comportamento” e os valores consumistas na Itália causavam-lhe repúdio. Principalmente pelo fato dos pseudo-valores mercantis afetarem a subjetividade do ser. Esta, segundo Pasolini, foi sendo miseravelmente esvaziada e coisificada para responder aos interesses da razão do sistema.

Para Pasolini, não só o italiano, mas todos os homens vinham sendo terrivelmente mastigados e retalhados pelo sistema neoliberal e em seguida cuspidos, com um ser reformulado, ajustado, de todo massificado para se adequar a lógica sombria e desumana do capital.

Segundo o filósofo Michel Lahud, no decorrer dos textos pasolianos,  fica claro, que a espiral de consumo seja fruto do cultivo artificial de carências dentro do quadro de um pretenso desenvolvimento da sociedade contemporânea. “O crítico italiano acreditava que uma sociedade ávida e cruel manejava mecanismos que solapavam os valores e culturas diferentes”.

O “vazio cultural” é justamente um dos pontos que Pasolini toca em sua obra “Os jovens Infelizes”. Segundo ele, o centro tradicional italiano rapidamente conseguiu destruir todas as culturas periféricas as quais eram asseguradas uma “vida própria”. “Estas eram essencialmente livre, mesmo nas periferias mais pobres e absolutamente miseráveis”.

Para Pasolini, uma das maiores barbáries ocorridas na Itália, se deve a indústria cultural ter construído uma razão plastificada e dominadora que, moldada aos interesses econômicos, buscou homogeneizar os costumes e as diferentes culturas italianas, para que estas convergissem às necessidades da classe dominante. 

Lahud, ao fazer a introdução da obra, salienta a coerência de Pasolini, lembrando que o fio de seus pensamentos tem sólida base na crítica social de que a mutação antropológica do homem contemporâneo ocorreu após o seu próprio “genocídio cultural”. 

Ao longo dos três últimos anos de sua vida, dedicou-se portanto Pasolini, e de maneira obstinada, ao trabalho de acusação e desvendamento dos mecanismos próprios dessa nova forma de poder facista, das suas trágicas incidências sobre o corpo e alma do povo italiano e dos graves perigos  sociais gerados pela brusca “mutação antropológica” que o novo regime estava promovendo. (Lahud,Michel, introdução, “Os Jovens infelizes” 

Ainda segundo Lahud, Pasolini nesta obra tem um olhar amadurecido e consequentemente assiste amargurado o seu país se entregar passivamente os imperativos do capitalismo e à corrupção associada a este sistema nascente. “O consumismo veio justamente romper o equilíbrio: aniquilando todos os modelos particulares de vida e os substituindo por outros, os quais, a maioria dos jovens não conseguia corresponder a ideologia do bem-estar e do consumo. O que acabava por incutir nessa mesma juventude a vergonha de sua própria condição social, tornando-a por isso ‘infeliz, neurótica e afásica’”, descreve Lahud sobre o pensamento do crítico italiano.

Quando Lahud comenta sobre o amadurecimento de Pasolini, é possível inferir que este se deve ao terrível desencanto que o italiano sofreu. Se no início de seus escritos Pasolini nutria uma espécie de nostalgia e idealizava a periferia de seu país, é importante destacar que ao longo dos anos, o escritor vai amadurecendo seu olhar e passa a suspeitar de que a mesma cultura proletária que ele exaltou também almejava ascender socialmente através da introjeção dos valores burgueses. 

É importante abrir umas aspas e dizer que grande parte dos filmes de Pasolini demonstravam a empatia que ele sentia pelo subúrbio italiano e seus costumes, como também a visão que esta tinha da metrópole. Ressalta-se que Pasolini buscava retratar inicialmente em seus filmes a cultura do proletariado como o último refúgio de inocência e pureza, justamente por acreditar que esta estava longe da influência consumista provinda da industrialização. 

Entretanto, depois de muito observar, Pasolini desiludido constata que o proletariado ou o jovem camponês que ele tanto idealizou ao longo da sua juventude buscava unicamente se igualar a classe burguesa, não só em termos econômicos, mas também em fatores sociais e culturais - era o surgimento da cultura de massa, a decadência de nosso tempo, como diria Pasolini. Assim ele percebe que o “povo nacional”, tão prestigiado em seus filmes vinha desaparecendo de seu país, pois o ideal burguês ininterruptamente assediava e penetrava as diferentes culturas com o intuito de fazê-las perderem sua a identidade, e assim tornarem-se homogeneizadas, assépticas, pálidas escravas da indústria cultural. 

Em algumas de suas obras é possível perceber que umas das críticas mais ferrenhas que Pasolini se debruça, trata justamente dessa “assimilação sem contestação” que a cultura popular faz da cultura burguesa, principalmente no que concerne ao consumo, visto que nesta relação só os interesses da burguesia são respeitados. “Enquanto transformação (por ora degradação) antropológica das pessoas, o consumismo é para mim uma tragédia”, enfatiza Pasolini. O inconformado crítico italiano irá afirmar ainda, ao longo de sua obra, que considera que a destruição e substituição de valores na sociedade italiana levou “mesmo sem carnificinas e fuzilamentos de massa, à supressão de largas faixas da sociedade”.

Assim que Pasolini compreende que o “mal burguês” se alastrava progressivamente sobre quase toda a sociedade italiana, ele adota um “tom permanentemente amargurado do mais absoluto desespero”. Sobre isso, Lahud destaca que depois desta trágica percepção, fica claro para Pasolini que seus escritos não poderiam pretender atingir objetivamente os jovens e operários que “vivem uma experiência originária do mundo totalmente alheia à sua”.

Lahud pondera que para Pasolini, sem sombra de dúvida, seria justamente esta uma das maiores violências do “novo fascismo”, ou seja, a de conseguir apagar da realidade todo e qualquer vestígio de uma ‘antiga maneira de ser’. “A de colocar os jovens, em sua grande massa, numa situação histórica tal que os obrigue a viver a própria infelicidade sem que nada possa fazê-los vir a tomar clara consciência dela”. 

“O poder do consumo, ruína das ruínas”

Frustração ou verdadeira ansiedade neurótica são hoje estados de alma coletivos”. É assim que Pasolini percebe a sociedade ao seu redor. Segundo ele, depois que o sistema começou uma obra para padronizar e destruir qualquer autenticidade e concretude, o “futuro se tornou iminentemente apocalíptico”. O novo aparelho fascista impõe modelos desejados pela nova industrialização, “que não mais se contenta com ‘um homem que consuma’, mas pretende ainda que se tornem inconcebíveis outras ideologias que não a do consumo. É de um hedonismo neolaico, cegamente alheio às ciências humanas”, diz Pasolini em ‘Os Jovens infelizes’.

Pasolini ao longo desta obra registra com empenho os extremos perigos da industrialização e principalmente discorre sobre a impossibilidade material dos jovens proletários e subproletarios de realizar os modelos culturais impostos pela burguesia. Para Pasolini, a juventude italiana se tornara “infeliz, neurótica, afásica, obtusa e presunçosa” graça às mil liras a mais que o “bem-estar” lhe tinha inesperadamente enfiado no bolso. “De fato não é uma mudança de época que vivemos, mas uma tragédia”, diz Pasolini que constantemente quase grita seus sentimentos ao leitor, tamanho a sua revolta frente à realidade indigesta ao seu redor. “É melhor ser inimigo do povo do que inimigo da realidade”, afirma ele de forma ousada, sabendo que seu engajamento politico e social era visto como uma ameaça para as classes dominantes da Itália.

Ao ler alguns de seus escritos fica quase evidente entender por quais motivos Pasolini foi tragicamente assassinado e talvez muito mais difícil de aceitar que as mãos macias de um jovem mancebo o tenham realmente o levado a morte. Mais crível pensar que suas críticas ácidas sobre a realidade italiana e o sistema capitalista, pesaram mais para seu fatídico fim.

Televisão: remanejando a subjetividade

Mas voltando aos ensaios de Pasolini, que descrevem e denunciam racionalmente a realidade atual à sua época, nos chama atenção ao grau de responsabilidade que o crítico dar aos meios de comunicação, no sentindo de instalar, consumar e perpetuar os signos de poder. “É através do espírito da televisão que se manifesta concretamente o espirito do novo poder”, diz Pasolini, que completa afirmando que esta (a televisão) não é apenas um lugar por onde as mensagens circulam, mas um centro elaborador de mensagens. “É o lugar onde se concretiza uma mentalidade que de outro modo não se saberia onde instalar”. E assim ele continua:

“Não há dúvida (os resultados o demonstram) de que a televisão é o meio de informação mais autoritário e repressivo do mundo. Comparados a ela, os jornais fascistas e as inscrições de slogans mussolinistas são risíveis: como comparar (dolorosamente) o arado comparado a um trator. O fascismo, insisto, no fundo não foi capaz nem de arranhar a alma do povo italiano: o nova fascismo, através dos novos meios de comunicação e de informação (especialmente a televisão) não só a arranhou, mas a dilacerou, violentou, contaminou para sempre”.


É importante destacar que as influências dos meios de comunicação sobre a formação da subjetividade do individuo já foram muito estudadas pelos teóricos da Escola Frankfurt. E tanto os frankfurtianos quanto Pasolini, coincidem no fato de atribuírem os meios de comunicação de massa um poder simbólico fortíssimo, que age na estruturação e no remanejamento do psiquismo.
Para o sociólogo alemão Theodor Adorno (1903-1969), por exemplo, o sistema capitalista com suas inúmeras tecnologias, transformaram, ou melhor, degeneraram a arte e cultura em mera mercadoria da indústria. E ele complementa que os meios de comunicação vinham causando nas pessoas, uma maior massificação do senso crítico e conformidade com os valores e padrões consumistas. 

Adorno, Horkheimer, Debord e Pasolini, todos problematizaram as consequência nefastas da televisão na subjetividade do indivíduo e demonstraram como o homem pós-moderno vem sofrendo um retrocesso de sua capacidade crítica para se transformar numa marionete fabricada em série. Segundo estes pensadores, o homem se tornou prisioneiro de uma “camisa de força simbólica”, onde os signos cada vez mais impõem valores morais e padrões culturais de um grupo dominante. 

Guy Debord em seu livro “A Sociedade do Espetáculo” faz uma aguçada análise de como o homem moderno deixou de viver para apenas contemplar o espetáculo do novo paradigma cultural, postulado pela ordem do mercado. Para Debord, o espetáculo é um instrumento-meio perfeito que converge apenas os interesses diretos ou indiretos do capitalismo:

O espetáculo é o sol que não se põe no império da passividade moderna. Recobre toda superfície do mundo e banha-se indefinidamente na sua própria glória. (...) O espetáculo é o mau sonho da sociedade moderna acorrentada, que ao cabo não exprime senão seu desejo de dormir (DEBORD, 1997, p. 12).

Tanto Pasolini quanto Adorno e Horkheimer analisaram como a indústria cultural vinha afetando a consciência do povo. Demonstraram, por exemplo, em alguns de seus estudos que os meios de comunicação de massa propagavam initerruptamente os ideais burgueses para o povo, promovendo assim uma assimilação acrítica desses valores pela classe subalterna. Segundo eles, os produtos sugeridos por esses instrumentos culturais estimulavam o consumo e promoviam uma assustadora alienação. “A humanidade, em vez de entrar em um estado verdadeiramente humano, está se afundando em uma nova espécie de barbárie” (Adorno e Horkheimer, 1985,).

Crítico radical

Entre as várias facetas de Pasolini, percebemos que ele foi um grande observador da virada irreversível do mundo e fez um poderoso e minucioso diagnostico dos tempos que viriam. Pasolini problematizou e polemizou a situação politica e social da Itália de maneira tão ácida e forte em seus últimos anos que acabou sendo isolado em relação seus contemporâneos e talvez seu olhar crítico e sua posição política o tenham levado também a morte, em 1975.
Pasolini foi um intelectual extremamente lúcido ao perceber que as novas conquistas do “progresso” recaem sempre, fora do palácio, sobre os “verdadeiros protagonistas da história como espoliação de valores e degradação”. O triste fim de Pasolini me parece ser mais uma prova do quanto sua produção intelectual apesar de apocalíptica, foi sobremaneira realista e coerente ao criticar a mutação trágica da cultura fascista em nossa sociedade.
Pasolini morreu depois de perceber que a nossa sociedade vem sendo desfigurada pelo capital, a moeda de troca para atingirmos a enaltecida e ilusória “emancipação do homem”. Morreu depois de enfatizar que nos tornamos cada dias mais escravos de uma ordinária razão técnica a serviço do capital. Por fim, morreu sentindo na pele o quanto eram duras e coerentes suas críticas. Provavelmente fechou os olhos confirmando sua descrença do mundo. 

“O espetáculo burguês consome não só a Itália, mas a humanidade inteira”, diz Pasolini


por Brunna Guimarães