sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Noroeste lança sua primeira piscina ECO!



Eis a primeira piscina olímpica que o tão prestigiado bairro “ecológico” oferece aos futuros moradores do Noroeste e a todos os brasilienses da Capital!  Venham conferir este projeto majestoso! A água pré-tratada corre pelas modernas tubulações de esgoto e caem ciclicamente em forma de cascata sanitária na borbulhante pia. De longe sentimos o odor dos sais gastrointestinais que aromatizam a bela piscina e o ambiente. Quentinha, esta sempre se encontra com uma temperatura ideal que agrada até mesmo a proliferação de bactérias e coliformes fecais, muito bom para fins terapêuticos e estéticos. 

Limpa como uma estação de tratamento, a primeira piscina do Noroeste foi ecologicamente pensada e construída sobre importantes lençóis freáticos que alimentam a bacia do lago Paranoá, da onde é retirada uma boa parte da água que abastece as cidades. Todo o processo de construção foi idealizado por empresas distintas, muito preocupadas com o nosso cerrado e com o marketing, tanto que deixaram assim alguns pequizeiros e Ipês a ornamentar o ambiente devastado. A piscina planejada foi feita como a nossa capital, com muito suor e sangue. Obstáculos – natureza, pessoas, direitos - foram violentamente rechaçados por meio de uma milícia corretamente respaldada pelo Estado. 
 
Pensando no bem estar das famílias milionárias que irão ter mais um lar no bairro nobre da cidade, o governo do GDF compromissado com o Novo Caminho, oferece mais este tapete vermelho a capital, onde mais uma vez, seguindo a velha ordem da hegemonia financeira, garante a proteção e promoção dos ricos em detrimento da população que não tem condições de comprar nem um centímetro quadrado no Noroeste – a maioria. Esse novo caminho proposto por nossos governantes muito se assemelha ao velho caminho aberto a fogo e doenças venéreas, feito pelos bandeirantes, que rasgaram as veias do Brasil para explorar a terra e povo em nome de expedições particulares majoritariamente com fins lucrativos. 

Mas o que importa os direitos das comunidades indígenas frente um anel dourado em uma mão branca? O que importa se inúmeras identidades culturais são dizimadas no Brasil enquanto o comércio prospera? O que importa se mais da metade da população brasileira sobrevive com apenas um salário mínimo se 1% dos mais ricos abocanham  mais de 50% da renda do brasil? O que importa se o meio ambiente é devastado frente a interesses megalomaníacos? O que importa o sucateamento da saúde e da educação se os ricos têm os melhores planos e escolas? O que importa os meios violentos se no fim há muito lucro para uma minoria abastada?  

A verdade é cruel..grande parte dos nossos governantes e empresários embusteiros não se importam nenhum pouco com a condição social e ambiental 
do Brasil mas somente desejam aumentar sua cota de lucro e poder para alimentar seus podres egos que vivem a mamar na teta egoísta da riqueza. 

Até quando a justiça do nosso país será aliada somente das elites? Até quando a ordem alavancará o progresso só para os ricos? Até quando os brasilienses vão acreditar nesta mentira fétida do Noroeste ser um bairro consciente, um bairro ecológico? O marketing que fiz da piscina de fezes não é nada comparado ao que fazem do Noroeste como um todo!  Verde só o malote de notas que os empresários vão ganhar com a especulação imobiliária em toda a capital, eco’lógico só o lógico que é mentira. O deficit de moradia da classe A não é nada comparado às outras classes menos abastadas, se querem construir casas e melhorar as condições nossa cidade, que façam para quem realmente precisa. 

E por favor, sr. Agnelo, faça ao menos valer a sua primeira frase estampada na capa do seu programa de governo - “O nosso compromisso do será seguir um novo caminho. Desenvolver o Distrito Federal, de forma sustentável e socialmente justa, com distribuição de renda, recuperação dos serviços públicos e participação de todos”. Chega de marketing! A verdade sobre o bairro Noroeste é cinza, poluidora, violenta e imoral! E a verdade sobre o seu governo? Será inocência minha acreditar que seu programa de governo ainda pode sair do papel?  Torço que não sejam somente palavras vazias para conquistar o eleitorado..

B.G
http://miraculoso.com.br/

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Quem pode derrubar uma força invisível?




“Desabituando-se os homens cada  vez mais de  pensar  por  si, acabarão por falar  unanimemente  de nossas idéias, porque seremos os únicos que proporemos novos rumos ao pensamento...”
 (Protocolos dos Sábios de Sião)

Sem conseguir dormir, estava agora a pouco a revirar-me inquieta pela cama. São 2h da manhã e a insônia insiste em arrastar-me noite adentro. As ruas da cidade estão vazias e sonolentas, somente um caminhão solitário vai ao longe escondendo o lixo de nossas vidas. Subo os olhos para o céu escarlate de mau agouro, e me entrego a um sorrateiro pensamento..

Minha inquietação tem nome – “PROTOCOLO DOS SÁBIOS DE SIÃO”. Estou lendo aos poucos este cínico tratado que supostamente descreve um maquiavélico projeto dos judeus para dominar o mundo. Acredita-se que primeira versão do manuscrito, tenha surgido na França, em 1864, escrito anonimamente por um advogado francês chamado Maurice Joly. Este livro seria um manual de regras ditado por um governo secreto no mundo para controlar as massas.  Somente no inicio do século 20, o obscuro livro foi forjado para desviar nossa atenção dos verdadeiros líderes mundiais e semear injustamente o ódio contra os judeus.  

Tirando toda a hipócrita campanha anti-semita presente no Protocolo, fiquei preocupada ao perceber o quão atual é este guia monstruoso. Os protocolos pontuam métodos de controle que a meu ver vem sendo inquestionavelmente postos em prática pelo mundo. E no Brasil não é diferente, silenciosamente vem sendo instauradas em nosso país políticas perversas que não ficam nada a dever ao requinte nefasto dos Protocolos.

Leiam estes pequenos trechos tirados do manuscrito e me digam se não são estranhamente parecidos com a nossa sombria realidade. 

 “A fim de que nada consigam pela reflexão, nós as desviaremos pelos jogos, pelas diversões, pelas paixões, pelas casas do povo... Em breve, proporemos pela imprensa concursos de arte, de esporte, de toda espécie de coisa alienante: esses interesses alongarão definitivamente os espíritos das questões em que teríamos de lutar com eles”. (Capitulo XIII)

Perdoem-me, mas juro que me lembrei do nosso eterno pão e circo – Carnaval e Futebol. Enquanto os brasileiros têm múltiplos orgasmos com bolas milionárias, bundas cintilantes e reality shows, não percebem ou não se interessam pelo jogo sujo que rola nos bastidores do nosso país. 

Desvios, falcatruas, corrupções, redução dos direitos sociais, aumento da repressão, da violência e da intolerância, homogeneização da cultura, privatizações sem fim, interesse pífio na educação, sucateamento da saúde e do transporte público, devastação do meio ambiente, desrespeito com os povos indígenas e com as diferentes culturas, impunidades silenciadas, desigualdade extrema, exploração de menores, aumento da taxa de depressão e suicídio, cidades, pessoas e direitos esquecidos por causa do espetáculo purpurinado que o sistema proporciona, ou melhor, impõe. 

 E nem vou falar da nossa tão esperada COPA, que sempre e “desinteressadamente” ocorre em paralelo com as ELEIÇÕES. Só de 4 em 4 anos que os interesses do povo e da elite se convergem no campo, pois enquanto o brasileiro trabalhador quase morre do coração neste estranho ritual de patriotismo,  a elite torce para que o Brasil vença e a massa ganhe seu quinhão de felicidade alienante, para não prestar atenção em nada que não seja a taça dourada. 

Mais coincidências..
“A fim de destruir todas as forças coletivas, exceto as nossas, supriremos as universidades, primeira etapa do coletivismo, e fundaremos outras com um  novo espírito. Seus reitores e professores serão preparados secretamente para a sua tarefa  por   meio de programas de ação secretos e   minuciosos, dos quais se não poderão afastar uma linha. Serão nomeados com uma prudência muito especial e serão inteiramente dependentes do governo. (...) Afastaremos da educação todas as matérias de ensino que possam causar perturbação e faremos da mocidade crianças obedientes às autoridades, armando quem os governa, como um apoio e uma esperança para a manutenção da tranqüilidade” (Cap. XVI)

Como não notar o doutrinamento ideológico que ocorre dentro das nossas universidades atualmente? Estas vem sem tornando somente uma ante-sala do sindicato partidário da vez. A liberdade de opinião só é aceita enquanto não se contrapõe aos interesses políticos internos. Até mesmo por trás das manifestações estudantis existe uma força política que as utiliza para obter vantagens para este ou aquele partido. 

Qual é o papel desempenhado pela imprensa hoje em dia?… Ela serve a objetivos egoístas. Ela é com freqüência insípida, injusta, mendaz, e a maioria do publico não faz a menor idéia a respeito dos objetivos realmente servidos pela imprensa. Devemos controlá-la com rédea curta… Nenhum anúncio chegará ao público sem nosso controle. ... Nossos jornais serão de todas as tendências; uns aristocráticos; outros republicanos, revolucionários ou mesmo anarquistas, enquanto existir a constituição, bem entendido. O público nem desconfiará disso. Todos os jornais editados por nós terão, aparentemente, tendências  e opiniões as  mais  opostas, o que despertará a confiança  neles e atrairá a eles nossos adversários confiante, que cairão na armadilha   e  se  tornarão inofensivos” (cap. 12)

O sistema de repressão do pensamento já está em vigor no método denominado do ensino pela  imagem,  que deve transformar os cristãos em  animais  dóceis, que não pensam e esperam a representação das coisas e  imagens, a fim de compreendê-las...”  (cap. 16)

Sabemos que os meios de comunicação são os maiores doutrinadores sociais, no Brasil então que 94% destes veículos estão nas mãos de pouquíssimas famílias, esta influência é maior ainda. E os grandes mandatários do poder sabem que detendo o controle da opinião pública  praticamente terão em suas mãos todos os processos da politica contemporânea..

Lá vem vindo meu doce Morfeu para me livrar destes pensamentos agourentos. Deixo agora para vocês analisarem por conta e com mais profundidade o restante do Protocolo. E amanhã, por favor, me digam se percebem ou não o quão nossa sociedade vem se tornando um retrato fiel do que é exposto nestas infelizes escrituras.

  Atenção para estes trechos:

“É preciso ocorrer à intensificação dos armamentos, o aumento das forças policiais”

“Precisamos  que as guerras não dêem, tanto quanto possível, vantagens territoriais. Transportada, assim, a guerra  para o terreno econômico, as  nações verão a força de  nossa supremacia, e  tal  situação porá ambas as partes à disposição de nossos agentes  internacionais, que têm  milhares de olhos de que  nenhuma fronteira  pode deter. Então, nossos direitos internacionais apagarão os direitos nacionais, no sentido próprio da expressão, governando os povos, do  mesmo   modo que o direito civil  do  Estado regula  as relações entre seus súditos”

“As mentes das massas devem ser desviadas para a indústria e o comércio. Assim, todas as nações serão envolvidas na busca de ganhos”.
“A necessidade do pão quotidiano impõe silêncio e faz deles nossos humildes servidores”

“Para arruinar  a  indústria dos cristãos, desenvolveremos a  especulação e o gosto do luxo, desse luxo  que tudo devora . Faremos subir os salários que, entretanto, não trarão proveito aos operários, porque faremos ao mesmo tempo, o encarecimento dos gêneros de primeira necessidade”

B.G

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Sentir..nada mais




Com a mente cansada de tanto estudar coisas que não alimentam o espirito, resolvi hoje botar uma camisa velha, um short deliciosamente confortável e sair a caminhar livremente sem rumo.  Como o tempo não estava muito alegre agradeci o coadjuvante mormaço pela feliz companhia.  Sai da gaiola de casa simplesmente para fugir um pouco das minhas obrigações. Livre das leis e dos códigos, alegre me estiquei procurando o sol por trás das nuvens, me contorci para escutar o barulhinho crocante de alguma vertebra voltando ao lugar, puxei minha perna para alto como uma bailarina sem potencial e de lá sai a correr para qualquer horizonte longe da esquizofrenia da vida. 

Corri como criança, sem nada e com tudo na cabeça. O vento da minha feliz velocidade refrescava minha pele, escutava eu a orquestra ritmada das cigarras, o barulho opaco dos meus pés contra o solo arranhado, e acelerava os passos só para passar zinundo pelo corpo de um caminhante solitário. Simplesmente queria suar para jogar fora as impurezas do corpo e da mente principalmente, pois o que não nos falta é muamba mental. Guardamos dentro de nós tantas miudezas desnecessárias, tantos sub-produtos que pesam nosso espirito, que acabamos mais nos arrastando pela vida do que aproveitando-a. Mas se na hora não sai para filosofar tão pouco agora o farei, a verdade é que só corria por correr, só respirava fundo feliz em respirar, só queria saber de escutar o ritmo desritmado do meu coração e de perseguir minha sombra fugidia. Corria quase voando, saltava para bater nos pequenos galhos das árvores, e fugia de tudo que não fosse o sentir simplesmente. Parei naquele pontos de ginasticas entre quadras mas na primeira abdominal me deixei deitar complemente e com vontade para observar o movimento das folhas verdes contra o reflexo do sol lá perto do céu.  Fiquei hipnotizada com esta dança e com o farfalhar da natureza por um bom tempo. E foi justamente neste momento que me bateu uma vontade estranha de sentir a terra beijar meu corpo todo. Sim, há tempos não deitava na terra, há séculos não me encostava toda ao planeta. 

Levantei-me e assim sai a procurar de um pedaço de pele da terra para abraçar. Cheguei a um descampado verde imenso, iluminado e um tanto solitário. De início olhei para os lados meio envergonhada desse ato que deveria ser tão natural, mas sem pensar joguei fora estes resquícios de etiqueta e me estirei com gosto na grama. De costas senti a terra pinicar levemente meu espirito, esquentar meu corpo, molhar meus dedos de orvalho e me envolver por inteiro em teu ser. Olhava para o céu, agora já aberto e plenamente azul e sentia um frio na barriga como se estivesse na pontinha de uma espaçonave a viajar pelo universo a velocidade da luz. Ria sozinha das sensações infantis, mas cada vez mais me sentia bem simplesmente por estar ali e existir por existir. Fechei os olhos sonhando com meus sonhos e lá me quedei por um eterno tempo. 

Só sai do meu estado alfa quando senti uma sombra sobre mim, abri os olhos e vi derrepente um homem me olhando lá do alto. Me sentei num instante e esperei o bendito importunante dizer o queria. Medo não fiquei pois via ao longe a presença humana reconfortante. Ele me perguntou com uma voz meio abafada “Você está bem?”. Claro..lá vinha mais um ser engaiolado pela normalidade, preso nas teias deste mundo tão “civilizado”, preocupado com minha suspeita atitude naturalista, pensei. Respondi meio sem jeito que sim, “estava descansando um pouco, olhando a beleza do céu..” disse. 

Já ia me levantar para ir embora mas foi nesse momento que meu dia se iluminou por completo, o homem sem nome, já quase um senhor, falou rápido “posso te acompanhar na contemplação do mundo?” Nossa me engasguei...olhei para ele para ver se percebia algum tipo de maldade, mas em seus olhos só havia alma e seu sorriso transmitia calma. Ele sentou como um ancião e não perguntou nem o meu nome, simplesmente aguardou minha “permissão” para deitar ao meu lado na nave gaia. Joguei pro alto minha desconfiança e disse sorrindo que sim, que seria uma honra ele ser meu copiloto. Juro que ele pareceu me entender, e assim dois estranhos se deitaram sobre a terra. 

Confesso que fiquei fascinada com o momento..

O silencio apaziguador nos tomava conta, um avião passou e o seguimos, os pássaros que cantavam cantavam para gente, as nuvens brancas e carregadas voavam para chover ao longe, as cigarras distantes procuravam um par, um casal de namorados passou próximo da gente rindo do estranho par, somente uma eternidade depois começamos a conversar. Mas não vou relatar aqui as coisas na qual falamos, pois para mim o mais fantástico foi percorrer um pouco esse universo mágico com um estranho ao meu lado.

E que seja perdido o único dia em que não se dançou..!

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Diálogo com a Velhice




Certo dia, frente a frente comigo mesma, minha futura velhice mirou-me com seus olhos angustiados através do espelho. Relato aqui algumas palavras desta nossa murmurada conversa.

 Minha cara amiga Ve-lhi-ce, por que a sociedade te trata como uma espécie de segredo vergonhoso, do qual é indecente falar?

Velhice: Fale mais baixo menina. Meu nome sempre foi amortalhado por este silêncio premeditado. O homem me joga no ostracismo desde que o mundo é mundo. Se antes me tratavam como refugo, rebotalho, hoje sou vista e repelida como se doença fosse. Tratados como párias, aqueles na qual beijo são quase sempre descartados, marginalizados ou recebidos com uma indiferença de sentença. O tratamento desumano que a sociedade dá ao homem nos seus últimos anos de vida atesta o fracasso gritante de um projeto chamado civilização. Cegos pelo preconceito, não enxergam que cada um de vocês já está habitado pela futura velhice. Pelo contrário, preferem assumir a postura deplorável e ignorante de não considerar os velhos como homens. Pobres coitados, vítimas de si mesmos, esquecem que assim só cavam mais profundamente o próprio futuro desamparado e cinzento.

Para a senhora o sistema atual se preocupa com a condição dos idosos?

 Velhice: O sistema só se preocupa com o indivíduo na medida em que esse rende minha filha! E também não seja inocente a ponto de acreditar que é uma preocupação verdadeira, pois não é, pelo contrário, passa muito longe disso. Esse teu mundo capitalista somente vê o homem como material para produção de lucro. Enquanto o homem está na ativa, de boca calada e condição mutilada de preferência, enchendo os cofres dos poucos privilegiados “sapatos dourados”, a coisa vai bem ao mercado. Mas, como sabemos, essa sociedade descartável e insustentável não tem o mínimo interesse em longo prazo, nem mesmo pelo homem.  Assim, tudo que ultrapassa 60 anos, aquele que passou uma vida se consumindo, se torna para este mundo mesquinho somente peso e problema. Não faça esta cara de espanto, pois tu sabes que este sistema de exploração começa a aliciar a sociedade desde cedo. Ele abusa, amassa, amolda e suga toda a energia de seus homens de forma dolorosa, e quando estes, exaustos, chegam à velhice e necessitam de apoio, recebem como pagamento somente um descaso imenso.

“Aí está o crime de nossa sociedade. Sua “política de velhice” é escandalosa. Mais escandaloso ainda, porém, é o tratamento que inflige à maioria dos homens na época de sua juventude e de sua maturidade. A sociedade pré-fabrica a condição miserável que é o quinhão deles na última idade. É por culpa dela que a decadência senil começa prematuramente, que é rápida, fisicamente dolorosa, moralmente horrível porque estes indivíduos chegam a ela com as mãos vazias” (Simone Beauvoir)

A senhora acredita que a mídia reforça comportamentos de negação da velhice?

Velhice: Tão certo quanto a morte! A mídia, atendendo as necessidades viscerais do poder econômico, promove o engodo de que o homem pode ser eternamente jovem. A velhice escancara essa mentira, ela é a materialização da verdade. O sistema vem tentando inibir cada vez mais o homem de pensar em sua finitude, pois ele sabe que a consciência da morte nos permite ter outra dimensão da vida. Uma dimensão que leva o indivíduo a refletir sobre os verdadeiros valores, valores que não cifráveis, infinitamente distantes dessa identidade fabricada para consumir de forma desenfreada a tudo e a todos. A ideologia do lucro promove a desconexão do homem de si mesmo, do seu processo natural, que é nascer, envelhecer e morrer. Ao iludir o homem, disseminando esse sonho da juventude eterna, ela tiraniza a mente, insuflando e vomitando valores estéticos que se adequam somente às exigências do mercado.

Porque a velhice é vista com tanto preconceito?

A velhice é vista com horror, pois vocês são ensinados, ou melhor, domesticados a endeusar somente o que é efêmero: a beleza, a juventude, o sucesso sexual e financeiro. Iludidos, vocês renegam a realidade insistindo em se prenderem a esse Olimpo sem céu, mas o tempo passa, e as frustrações das promessas não cumpridas começam a bater nas feridas narcisistas. A maioria se sente infeliz ao se tornar velho, pois estreitaram suas almas a tal ponto de valorizarem somente o invólucro corpo. Enquanto a pele for o recheio mais almejado, enquanto vocês se reconhecerem somente em suas cascas, o sistema estará sorrindo vendendo seus vidrinhos da fonte da juventude. E como caem nesse engodo...

"A atitude dos idosos depende de sua opinião geral com relação à velhice. Eles sabem que os velhos são olhados como uma espécie inferior. Toda uma tradição carregou essa palavra de um sentido pejorativo ela soa como um insulto. Assim, quando ouvimos nos chamarem de velhas, reagimos com cólera". (Beauvoir)

Como a senhora avalia a situação dos idosos atualmente?

Velhice: A sociedade vem fechando os olhos para a condição precária dos idosos. A maioria dos velhos tem um nível de vida tão miserável que as expressões velho e pobre poderiam ser sinônimas; e a maior parte dos indigentes são velhos também! Se vocês não pararem de trapacear com vocês mesmos, não perceberem que o sentido da vida está justamente em valorizar, e não ignorar, o que vocês serão um dia, jamais irão assumir em sua totalidade a condição humana. É preciso arrancar o estereótipo da infelicidade na idade avançada. A velhice é um momento da existência diferente da juventude e da maturidade, mas possui seu próprio equilíbrio, e oferece inúmeras possibilidades. Nesse sentido, é preciso arrancar o preconceito, jogar no lixo essas ideias estabelecidas e resgatar a dignidade dos mais velhos, oferecendo a eles melhoria da qualidade de vida em todas as esferas.

“Os economistas e legisladores deploram o peso que os não-ativos representam para os ativos, como se estes últimos não fossem futuros não-ativos e não assegurassem seu próprio futuro ao instituir o amparo aos idosos” (Beauvoir)



B.G

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Homens esvaziados



Pergunto de forma simples e direta, o que está acontecendo com o nosso espírito? Ou para os mais céticos, para onde foi a nossa consciência, a nossa razão? Por todos os lados, vejo o desrespeito com a nossa terra, percebo a hipocrisia nos sorrisos cintilantes desta corja de empresários que se pudessem comeriam dinheiro, vejo nossos políticos rasgando em pedacinhos a ética por uma meia recheada, vejo gente julgar o outro pelo bolso, vejo igrejas lotadas aos domingos para de lá saírem crentes a cultuar com seus rosários, preconceitos, mentiras, egoísmo, e a pior de todas cracas que entulham nossa alma, a indiferença.

Um olhar indiferente mata mais que uma bomba atômica, ele mata as expectativas e os sonhos de uma criança que pede atenção num sinal, destrói a cultura de uma tribo que grita para que seus direitos sejam respeitados, pisoteia com violência os ideais de tantos estudantes que vão as ruas para cobrar o que está na própria Constituição. A indiferença afasta o toque, repugna o cheiro, pede silêncio e embota a mente de simulacros para esquecer o que viu. Ela menospreza tudo que não se adequa a seu cabresto.

Ontem ouvi um pensador dizer que o homem contemporâneo caminha para o esclarecimento e abraça cada vez mais a razão. Não discordo dele, só complementaria dizendo que o homem pós-moderno cinge uma razão estética em detrimento da razão ética. A razão para mim está intrinsicamente ligada à verdade, a justiça, e a busca por valores que enriquecem não só intelectualmente o homem como também o espírito.

A razão que deveria iluminar o caminho e a identidade do Ser, hoje se tornou uma razão vazia de valores, uma razão somente tecnicista. Esta razão não forma HOMENS, ela produz em série homens. (homens) pequenos, eticamente imaturos, desprovidos de consciência. homens que desvirtuam a razão para adequá-la aos seus interesses (como para obter riqueza, poder, fama, etc).

Um bom exemplo, são os grandes empresários que estão a frente do projeto do Setor Noroeste. Estes afirmam ser necessário criar novas moradias para atender as demandas habitacionais da classe média-alta. Associam seus investimentos a geração de renda e empregos, acompanhada do marketing da sustentabilidade. As premissas da qual eles fazem uso são lógicas, porém carregadas de uma razão não virtuosa, já que o Noroeste nada tem de sustentável, pelo contrário, está destruindo a fauna e a flora local, expropriando a população indígena de suas terras por direito, devastando as nascentes, podendo com isso, a médio e longo prazo provocar impactados desastrosos para o ecossistema como um todo. Este exemplo ilustra como que a lógica dos homens pode deturpar a razão ética. Ou seja, eles constroem uma razão plastificada que se amolda perfeitamente a seus interesses escusos.

A razão que estes homens sem virtude propõem muito se assemelha com o jovem Dorian Gray, de Oscar Wilde. Na superfície, na casca, não se pode ver os efeitos malignos de suas ações, pelo contrário, tudo parece perfeito, verdadeiro e belo logicamente, porém se tivermos acesso ao “quadro de Dorian” veremos com espanto o monstro que se tornou a razão sem ética, a inteligência sem princípios.

Não é atoa que sinto hoje, um estranho esvaziamento do homem. Aparentemente tudo está igual, mas a verdade é alguma essência que lhe falta. A razão mais externa, aquela astuta, mercantil, lógica e inteligente o habita cada vez mais, porém, fico me perguntando onde está a razão virtuosa do Ser? Onde está o espirito deste invólucro chamado corpo? Cuidado para não se tornar apenas um corpo vazio e ambulante..

B.G 

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