quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Homens esvaziados



Pergunto de forma simples e direta, o que está acontecendo com o nosso espírito? Ou para os mais céticos, para onde foi a nossa consciência, a nossa razão? Por todos os lados, vejo o desrespeito com a nossa terra, percebo a hipocrisia nos sorrisos cintilantes desta corja de empresários que se pudessem comeriam dinheiro, vejo nossos políticos rasgando em pedacinhos a ética por uma meia recheada, vejo gente julgar o outro pelo bolso, vejo igrejas lotadas aos domingos para de lá saírem crentes a cultuar com seus rosários, preconceitos, mentiras, egoísmo, e a pior de todas cracas que entulham nossa alma, a indiferença.

Um olhar indiferente mata mais que uma bomba atômica, ele mata as expectativas e os sonhos de uma criança que pede atenção num sinal, destrói a cultura de uma tribo que grita para que seus direitos sejam respeitados, pisoteia com violência os ideais de tantos estudantes que vão as ruas para cobrar o que está na própria Constituição. A indiferença afasta o toque, repugna o cheiro, pede silêncio e embota a mente de simulacros para esquecer o que viu. Ela menospreza tudo que não se adequa a seu cabresto.

Ontem ouvi um pensador dizer que o homem contemporâneo caminha para o esclarecimento e abraça cada vez mais a razão. Não discordo dele, só complementaria dizendo que o homem pós-moderno cinge uma razão estética em detrimento da razão ética. A razão para mim está intrinsicamente ligada à verdade, a justiça, e a busca por valores que enriquecem não só intelectualmente o homem como também o espírito.

A razão que deveria iluminar o caminho e a identidade do Ser, hoje se tornou uma razão vazia de valores, uma razão somente tecnicista. Esta razão não forma HOMENS, ela produz em série homens. (homens) pequenos, eticamente imaturos, desprovidos de consciência. homens que desvirtuam a razão para adequá-la aos seus interesses (como para obter riqueza, poder, fama, etc).

Um bom exemplo, são os grandes empresários que estão a frente do projeto do Setor Noroeste. Estes afirmam ser necessário criar novas moradias para atender as demandas habitacionais da classe média-alta. Associam seus investimentos a geração de renda e empregos, acompanhada do marketing da sustentabilidade. As premissas da qual eles fazem uso são lógicas, porém carregadas de uma razão não virtuosa, já que o Noroeste nada tem de sustentável, pelo contrário, está destruindo a fauna e a flora local, expropriando a população indígena de suas terras por direito, devastando as nascentes, podendo com isso, a médio e longo prazo provocar impactados desastrosos para o ecossistema como um todo. Este exemplo ilustra como que a lógica dos homens pode deturpar a razão ética. Ou seja, eles constroem uma razão plastificada que se amolda perfeitamente a seus interesses escusos.

A razão que estes homens sem virtude propõem muito se assemelha com o jovem Dorian Gray, de Oscar Wilde. Na superfície, na casca, não se pode ver os efeitos malignos de suas ações, pelo contrário, tudo parece perfeito, verdadeiro e belo logicamente, porém se tivermos acesso ao “quadro de Dorian” veremos com espanto o monstro que se tornou a razão sem ética, a inteligência sem princípios.

Não é atoa que sinto hoje, um estranho esvaziamento do homem. Aparentemente tudo está igual, mas a verdade é alguma essência que lhe falta. A razão mais externa, aquela astuta, mercantil, lógica e inteligente o habita cada vez mais, porém, fico me perguntando onde está a razão virtuosa do Ser? Onde está o espirito deste invólucro chamado corpo? Cuidado para não se tornar apenas um corpo vazio e ambulante..

B.G 

http://www.miraculoso.com.br/

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Como eles disseram...


 “Nós (Inglaterra) não entramos em guerra por nenhum motivo sentimental. Duvido que isto tenha acontecido mesmo uma única vez. A guerra é o produto de conflitos comerciais; o objetivo da guerra: impor sobre o inimigo aquelas condições comerciais que se considera necessário para si. Utilizamos todos os pretextos possíveis para a guerra, mas suas verdadeiras causas são sempre questões comerciais. Quer seja alegado que a causa da guerra é para defender, ou a necessidade [de obter], uma posição estatégica, quer seja que tratados tenham sido violados ou motivos similares tenham desempenhado um papel - no final das contas, tudo tem origem em interesses comerciais. Pois o motivo simples, mas decisivo, é que o comércio é o sangue dos nossos corações”.

Aquilo que é, é dito aqui claramente e abertamente: “Nós imperialistas (isto, é claro, também se aplica aos imperialistas alemães) tomamos qualquer pretexto, falamos de defesa, de tratados violados etc., mas o essencial é apenas uma coisa: o dinheiro, os interesses dos capitalistas”. Esta é a pura verdade. Isto é o que são as guerras imperialistas. Causas e pretextos exteriores podem parecer verrosímeis. Um está se “defendendo”, outro está lutando nobremente pela independência de um país, um terceiro está defendendo os interesses da “civilização”, puramente a partir do idealismo, contra “bárbaros russos”.
Na realidade, no entanto, todos lutam pelos interesses de um punhado de magnatas do capital financeiro"

Gregori Zinoviev, Guerras: defensivas e de agressão, 4 de agosto de 1916

sábado, 17 de setembro de 2011

1984: uma ficção não tão fictícia


“Num tempo de engano universal, dizer a verdade é um acto revolucionário."  George Orwell

Imagine um mundo onde manifestar o pensamento não somente é um crime que implica a própria morte, mas pior que isto, cometer a “crimidéia” - de pensar de forma crítica, diferente da massa sonâmbula que não reflete nem cria - é como morrer psicologicamente (por culpa e remorso) antes mesmo de ser capturado pela “Polícia do Pensamento”. Imagine um tempo onde à repressão e o medo reinam, onde se fabricam ou desconstroem verdades a bel prazer dos interesses do Sistema e até mesmo onde amar já não é mais permitido.
 
É este contexto opressivo e cinzento que o leitor irá se deparar nas páginas do livro de George Orwell. Ao ler ‘1984’, senti uma sensação no mínimo estranha, a cada linha da ficção futurista de Orwell, ficava mais inquieta ao perceber o quão próximos estamos desta sufocante realidade descrita por ele. 1984, mais do que um livro de política é uma grande metáfora da realidade que estamos construindo.

 

O livro conta a história de Winston Smith, um funcionário do Ministério da Verdade. Seu ofício? Transformar, ou melhor, deturpar a realidade. Dependendo do interesse do Partido no momento, Smith reescreve, altera e incinera dados que possam contradizer as verdades do Partido. Estranhamente similar ao trabalho questionável da atual corporação midiática. Por meio de simulacros, bricolagens e montagens, a grande mídia age como prostituta a serviço dos interesses econômicos e políticos, ao selecionar e organizar as informações que se adequam somente ao veículo ou meio de transmissão ditado pelos poderosos.

É bom saber que atualmente no Brasil, 94% dos meios de comunicação estão nas mãos de apenas nove famílias, e são estes conglomerados que influenciam fortemente a política, a economia e a construção da nossa realidade. São eles que mandam e desmandam no Brasil, pois quem controla a informação dirige a opinião pública.

Mas voltemos a 1984. No livro uma elite dirigente do regime totalitarista mantém sob seu jugo intelectual e cultural as camadas consideradas “inferiores”, por meio da batuta onipresente do Grande Irmão (Big Brother). Este, chefe de governo imaginário ou real, detém o poder sobre a vida e pensamento de todos. É desta forma, que Estado vigia os indivíduos, buscando manter assim um sistema político coeso internamente. Isso é obtido em grande parte não só pela opressão da Polícia do Pensamento, mas também pela construção de um idioma totalitário denominado a “Novilíngua”. O objetivo desta é tornar cada vez mais o pensamento das pessoas igual, massificado, impedindo assim a expressão de qualquer opinião diferente e contrária ao Partido.

Restringindo as formas de expressão, controlando o pensamento através de induções e “hipnoses” malignas, o Estado aos poucos vai suprimindo a individualidade com o propósito de destinar toda a vida dos cidadãos aos seus interesses. Estes, entorpecidos, influenciados pelos eventos com fachadas políticas e patrióticas acabam sendo reduzidos a peças que somente servem ao estado ou ao mercado através do controle total.

O poder está em se despedaçar os cérebros humanos e tornar a juntá-los da forma que se entender" (1984, Orwell).

Eu não sei vocês, mas tenho a nítida impressão que nossa sociedade está caminhando domesticada em direção a mais essa jaula perversa: a da dominação do pensamento por parte do Sistema. A grande maioria não percebe, mas estamos diante de uma força brutal que tenta impor ininterruptamente valores éticos e padrões culturais de um grupo para todo o conjunto social. E qual é o interesse do Sistema com isso? Simplesmente modelar nossa conduta e formatá-la em consciência ajustada à economia do mercado. Ao unificar e padronizar o indivíduo, o Sistema algema a mente do Ser com seus signos e com isso a sociedade se transforma em um mundo sem oposição, em um mundo assustadoramente parecido ao de George Orwell.

Ai está a dica da semana, leiam e vejam se estou sendo apocalíptica demais ou se aliem contra estes avanços tecnológicos que almejam nos vigiar totalmente, contra estas intervenções ditas “humanitárias” nos países feita pelos Imperialistas para assegurar a “paz”, contra estes programas emburrecedores que a grande mídia nos oferece, onde só nos embota a mente e nos manipula, enfim reflitam as questões que o Orwell fantasticamente nos apresenta em seu livro e vamos a luta!! Abaixo ao Grande Irmão!

Além da leitura desta obra de Orwell, recomendo “A revolução dos bichos”, o livro “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley, e o próprio filme “1984”, dirigido por Michael Redford.