segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011



Fez-se imagem e semalhança..pela segunda vez.

Outro dia me peguei comparando a televisão a um espelho, não um espelho desses qualquer, pois este por mais que tenha inúmeras lendas por detrás de sua superfície, simplesmente reflete nossas linhas e formas, tal qual somos, com o peso da realidade ali estampado, para nosso encanto ou não.. Refiro-me mais a um espelho às avessas, tirado de um conto de fadas para adultos, na qual o sujeito não fabrica mais a imagem, onde o reflexo não se move em sintonia com o individuo, mas sim somos nós que imitamos o que se encontra do outro lado da tela mágica. A imagem atualmente deixou de ser apenas o reflexo para se tornar mais Sujeito que o próprio Ser. Este, cada vez mais esvaziado de sua própria identidade, vem buscando desesperadamente moldar seu “Eu”, com estereótipos mercadológicos divulgados, replicados e regurgitados pelos meios de comunicação em massa.
Como narcisos, as pessoas estão cada vez mais deixando de lado a realidade para viver o gozo da imagem, do virtual. Na ânsia de fugir de sua pálida rotina, buscam preencher a “vida” com fantasias e idealizações difundidas pelo Sistema. Do outro lado das modernas telas, que mais nos parecem janelas para um mundo melhor, tudo parece mais belo, lustroso e estimulante. Sentados na própria vida, prostrados naquele sofá manchado por baba de cachorro, papa de criança e uma gotícula solitária de sexo, muitos se entregam sedentos aquela bela miragem, de uma vida cheia de aventuras das quais não vivem, de paixões que não sentem e da sonhada fartura que a família geralmente não tem. Hoje se acompanham mais as tramas novelescas do que os próprios dramas, estes, cansados de tanto esperar por ações, vão se acumulando nos cantos empoeirados da nossa mente. Mais nos masturbamos internamente com os belos corpos inatingíveis da TV do que fazemos sexo com nossos companheiros. Compramos aquelas grifes veiculadas nas propagandas que cheiram a fama e poder, pois as confundimos com identidade. Hoje o “ter” se tornou sinônimo de “ser”, objetos estão adquirindo características humanas, produtos mostram quem é aquela pessoa que os possui.
Consumimos tudo e a todos de forma desenfreada, na vã promessa de realizar nossos desejos. Mas nossos sonhos são hoje sonhos massificados, domesticados. Acreditamos ser livres para fazer o que bem desejamos, ledo engano..pois a maior cartada do Sistema é essa, nos fazer crer que necessitamos verdadeiramente daquele carro quase falante, da loira boazuda que parece sempre estar um passo do orgasmo (sic..auto), das lingeries fatais que prometem noites suadas com quase semi-deuses, que precisamos daquele celular que guarda o mundo dentro de si e outros tantos objetos e parafernálias que nos compram por meio da coação psicológica. Como bem disse Ferrés, na maioria das vezes as pessoas não fazem o que internamente desejam, simplesmente agem conforme doutrinamentos e imitações. Fazer o que se deseja verdadeiramente é para poucos..pois a verdade é que somos ininterruptamente levados a desejar o que interessa que se deseje. Se o Sistema prega a liberdade acima de tudo, é porque esta foi presa em uma gaiola chique, confortável, cômoda. Alienante a tal ponto que nos engaiolamos sem ao menos saber/sentir que cada vez mais nos tornamos um bichinho mercadológico vivendo do farelo deles..

Brunna Guimarães

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