segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Não mais Angios

Nossa alma se estreita neste invólucro chamado corpo
A pele se torna hoje o recheio mais almejado
Jogamos fora o gomo vital para endeusarmos somente cascas
Nosso fruto perdeu seu Angio e só deixou spermas soltos num oco estéril
Eternas sementes imaturas, refogadas na anilina e enlatadas em massa
Lustrosas, estimulantes, cósmicas ou juvenis
Vende-se em pedaços o paraíso prometido
Cada bago uma soma de ilusão, eterna maçã proibida sedenta por uma boca lânguida
Suculenta nos baixios da língua mas seca como pedra depois de mordida
Seus sabores são inúmeros mas seu acorde último é sempre uma amarga insatisfação
Bendito hoje é o Ventre que mais nos engole do que dá frutos
Os cordões umbilicais do Sistema se fincam em nossos vácuos
E nos alimentam com valores mercantis..

quinta-feira, 8 de julho de 2010

"Subi o no topo da minha carreira e lá de cima me joguei"

Nicolas behr

Pescador de Egos




Nossos sonhos são grãos de poeira nas solas do senhor dos Sapatos Dourados
Dos sulcos secos da nossa mente surge a homérica barragem chamada Tevejo
Em horário nobre suas comportas se abrem para naufragar algum resquício de
Pensamento insistente e refrescar de forma deliciosa o fálico ego.
As águas de Tevejo são mais cristalinas do que aquelas que Narciso se amou.
Os peixes de Tevejo são como moedas de ouro reluzentes,
Como loucos tentamos capturá-los, mas estes são rápidos demais e
Com ajuda do espelho d’água iludem o inocente pescador,
Que por mais veloz que seja, sua mão raramente encontra o que a boca anseia
Muitos são os que mergulham em busca dos preciosos Dourados,
Nadam, nadam e nadam pelas profundezas abissais do rio,
Sem ar sonham tocar os expirais iluminados, mas em vão, pois só encontram lama
E quando já estão prestes a sufocar, em profundo desespero de nada encontrar
Dos confins da terra surge uma bela ninfa com sua calda de cascavel e voz de sereia
E com olhar malicioso lhes entrega uma rede repleta de Dourados
Radiantes, os pescadores se perdem nos feixes hipnóticos
Ao se contemplarem na face do ouro vivem a ilusão do preenchimento
Nem percebem o ar esvair..se perdem completamente num êxtase quimérico
E das escamas douradas refletidas vivem uma vida mais bela que a própria
Mamam nas tetas quentes da alienação e gozam o gozo refletido do seu próprio Outro
E assim..vão morrendo languidamente em seu paraiso errante
Levando consigo numa fé carnal - um dourado
Mal sabendo que um barqueiro sombrio lhes aguarda sorrindo

Poucos são os que em sua última gama de ar percebem o engôdo
Estes, se apressam em soltar sua preciosa rede
Em um caudal desespero se agitam para cima em busca deles próprios
Nadam nadam nadam mas não saem do lugar
Pois o ego que levam dentro de si pesa demais para deixar
E depois de tanto tempo sendo refinado e talhado
O ouro lhes corta de vez o peito feito lâminas vindo de dentro
E de todos os poros esvaem o cáustico metal
Tomando sua legitima forma..


- Mais um dourado abissal para minha coleção, diz sorrindo maquiavélico o sr. de sapatos dourados olhando para seu pequeno aquário.

B.

terça-feira, 6 de julho de 2010


Seres infláveis


Vivemos na era dos idiotas felizes
Sorrimos bobos e com cabresto nos olhos vemos o que querem que vejamos
Trocamos nossa consciência pelo conformismo sonso
Negamos o conhecimento em troca de bundas e gozos
O que sai da nossa boca é a escarra de um coração doente
Nossas mentes não são mais nossas
Standartizadas, adulteradas e rebaixadas
Nos tornamos escravos sem dialética
Nossos corpos não nos pertencem
Vitrines frias, etiquetas ambulantes, gaiolas sem pássaros
Sonhamos acordados com o Vazio
Oco, cavo, vácuo não se engane o vazio ocupa espaço
Eternos sonâmbulos errantes
Nossos sonhos são fabricados em série, são os desejos da maioria
Tem enlatados para todas as idades e gostos
- Parque de diversão para os adultos!
- Maçãs do sexo para as crianças!

Compre compre compre porque nós o compramos para isso!
Casca, carapaça, somente pele porosa e arcaica
Esponja do coito sem cosmo, da falácia ouvida, do riso estúpido
Bonecos de ventríloquo da tv, narcisos afogados pelo seu próprio espelho
A imagem nos fabricou a própria imagem e semelhança
Seres infláveis, corpos sem espíritos
O sistema nos mete com lubrificante estereótipos e valores
Lânguidos, usados, suados e descartados
É o que somos!
Massa sem energia
Olhar sem vida
Homens sem fé
Somente pó a mercê do vento
Drogados pela idiotice

B.