Pescador de Egos
Nossos sonhos são grãos de poeira nas solas do senhor dos Sapatos Dourados
Dos sulcos secos da nossa mente surge a homérica barragem chamada Tevejo
Em horário nobre suas comportas se abrem para naufragar algum resquício de
Pensamento insistente e refrescar de forma deliciosa o fálico ego.
As águas de Tevejo são mais cristalinas do que aquelas que Narciso se amou.
Os peixes de Tevejo são como moedas de ouro reluzentes,
Como loucos tentamos capturá-los, mas estes são rápidos demais e
Com ajuda do espelho d’água iludem o inocente pescador,
Que por mais veloz que seja, sua mão raramente encontra o que a boca anseia
Muitos são os que mergulham em busca dos preciosos Dourados,
Nadam, nadam e nadam pelas profundezas abissais do rio,
Sem ar sonham tocar os expirais iluminados, mas em vão, pois só encontram lama
E quando já estão prestes a sufocar, em profundo desespero de nada encontrar
Dos confins da terra surge uma bela ninfa com sua calda de cascavel e voz de sereia
E com olhar malicioso lhes entrega uma rede repleta de Dourados
Radiantes, os pescadores se perdem nos feixes hipnóticos
Ao se contemplarem na face do ouro vivem a ilusão do preenchimento
Nem percebem o ar esvair..se perdem completamente num êxtase quimérico
E das escamas douradas refletidas vivem uma vida mais bela que a própria
Mamam nas tetas quentes da alienação e gozam o gozo refletido do seu próprio Outro
E assim..vão morrendo languidamente em seu paraiso errante
Levando consigo numa fé carnal - um dourado
Mal sabendo que um barqueiro sombrio lhes aguarda sorrindo
Poucos são os que em sua última gama de ar percebem o engôdo
Estes, se apressam em soltar sua preciosa rede
Em um caudal desespero se agitam para cima em busca deles próprios
Nadam nadam nadam mas não saem do lugar
Pois o ego que levam dentro de si pesa demais para deixar
E depois de tanto tempo sendo refinado e talhado
O ouro lhes corta de vez o peito feito lâminas vindo de dentro
E de todos os poros esvaem o cáustico metal
Tomando sua legitima forma..
- Mais um dourado abissal para minha coleção, diz sorrindo maquiavélico o sr. de sapatos dourados olhando para seu pequeno aquário.
B.
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