Rede Globo renova contrato com produtora de televisão para que o programa Big Brother seja realizado até 2020
Senhoras e senhores o circo midiático está montado! No picadeiro, artistas de diferentes especialidades, ilusionistas, equilibristas, dançarinos, pedantes exibicionistas, egoístas, mulheres melancias, gladiadores suados, palhaços e bonecos de ventríloquo. Nesse espetáculo é permitido tudo, menos liberdade e pensamento crítico. A colorida lona circense encobre todo Brasil com seus olhos de Argos e a voz velhaca do apresentador ecoa até mesmo nas regiões mais longínquas e esfomeadas do país.
De forma quase mágica a arena se transforma ora em cabaré, ora em ringue ou num jogral de infantilidades. Em troca do paraíso prometido – fama, riqueza e felicidade fácil - os artistas estampam seus corpos, vendem valores adequados ao mercado e representam ao renomado público um dramalhão de festas, orgias, choros, bebedeiras, traições, superações e muitos outros jogos e estratagemas previamente articulados que arrancam gritos e risos bobos da hipnotizada platéia.
Os folhetins mercadológicos proclamam que notícia importante é saber que “Laisa almoçou com descolorante no braço”, que “Munique já se arrependeu de ter ficado com Jonas”, que “Renata deseja fazer tatuagens depois de sair da casa” e destaque para “Jõao Carvalho que agiu mais do que certo ao reclamar do fio dental no cinzeiro”..e inúmeras outras inutilidades. Este circo dantesco de idiotices não mereceria uma linha se quer, se não fosse a arrepiante manchete que li ontem: - Rede Globo renova contrato com produtora de televisão para que o programa Big Brother seja realizado até 2020.
Uma notícia dessa sim é importante. E deveria assustar os brasileiros com um todo, não é possível que um programa alienante desse, alimentado pela Rede Globo, cresça em nosso país sem percebermos o mal que ele, e outros tantos programas emburrecedores andam causando em nossa sociedade. Esse lixo reciclado transmiti valores de um capitalismo selvagem e decadente, a base de todo o programa é estimular a cobiça dos participantes para tentarem ganhar um milhão, ou ao menos gozarem de inúmeros ganhos materiais no decorrer ou pós a trama. E para terem direito de permanecerem na Casa, nos holofotes da fama, precisam angariar votos e para isso vale tudo, intriga, traição, sexo fácil, humilhação, jogo sujo e um malabarismo de idiotices sem fim.
Sinceramente o que me preocupa não é tanto as sacanagens sexuais que rola no programa, isso não é nada comparado à perversão da Rede Globo e do Sistema mercadológico. Enquanto ficamos perdidos na sacanagem que está rolando de baixo dos edredons, a nossa grande irmã Globo vai enfiando em nossas mentes (com lubrificante claro..), pseudo-valores adequados a sociedade de consumo, enquanto ficamos em estado alfa acompanhando a rotina rasa dos sortudos, esquecemos de refletir a situação gritante do nosso país. Fico me perguntando porque a maioria não percebe que mais criminoso que um estupro é a omissão daqueles que vem o ato acontecer e não fazem nada! Como aceitamos presenciar um estupro em rede nacional, com 200 câmeras acompanhando e mais de 30 pessoas da globo observando e editando a cena sem nem darem o alarme?
O responsável pelo estupro deve ser sim julgado pelo seu ato, mais crime maior foi o da Globo que deveria ser processada e julgada, pois ela foi completamente omissa, e transformou todos os telespectadores brasileiros em participe do estupro. Mas infelizmente, creio que a coisa está tão às avessas, que tudo pode ter sido de um teatro realizado para aumentar o ibope, pois nada do que assistimos é “a vida como ela é”, tudo ali tem roteiro, a vida é tomada de empréstimo, é espetacularizada, moldada a sociedade consumo, e transmitida como se fosse real.
Ontem me questionaram por que me preocupo com uma coisa tão pequena e rasteira como Big Brother, ora preocupante para mim é naturalizar a ignorância, é prestigiar falta de senso crítico, é incitar a discórdia em nome do capital, é diminuir a liberdade do indivíduo, é instigá-lo a superficialidade, é domesticá-lo para se adequar ao sistema neoliberal. E isso tudo está presente não só nos reality shows, como nas novelas, na publicidade e em quase toda a nossa programação. Isso sim pede atenção, pois o mercado vem mastigando e retalhando o homem a seu bel-prazer para logo em seguida cuspi-lo fragmentado e reformulado, com uma nova identidade.
Quem prestar atenção irá perceber que não estamos muito longe da realidade ditadora e opressiva que originou o primeiro “Big Brother”. Só espero que nosso final não seja trágico como o de Winston Smith..
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