Datas importantes que serão encontradas no bloco de notas de um pesquisador:
2016: Importante centro de pesquisa brasileiro identifica estranha frequência no plano atmosférico, mais alta e difusa que o sinal AM, FM, Wie e Apls
2018: Pesquisador americano afirma que esta frequência tem seu maior pico a noite e diz ainda não ser freqüência de som, mas sim de um possível canal, na qual só há emite imagens.
2025: Empresa multimilionária Americana se funde com uma grande empresa de pesquisa Chinesa. Estudos secretos: Alta freqüência noturna.
2028: Descoberta em off: A Freqüência se trata dos sonhos das pessoas. Só nesse estágio, o dorminte emite freqüências de seus sonhos/imagens para um plano que se concentra pouco acima dos 7 mil pés. Percebe-se uma cortina densa de energia de grande atividade eletrostática. Devido à altitude da freqüência esta ficou conhecida pelos pesquisadores como freqüência “do sétimo plano”.
Em off 2035: Empresa Skyline, emite a primeira imagem codificada do sétimo plano. Imagem do sonho “Garotinha se escondendo dos pais com uma máquina fotográfica nas mãos, flash a todo momento..” imagem difusa/ sem som
2055: Interesses econômicos começam a surgir...
2062: Jovem pesquisador Chinês consegue pela primeira vez inserir na freqüência códigos similares no 7° plano; Empresa skyline patenteia a idéia do jovem.
2067: Teste mega publicitário em off: Freqüência da coca-cola é codificada e transmitida em serie na noite do dia 23/12/67 ao respectivo 7° plano estudado..
Dia seguinte: Milhares de pessoas acordam com uma estranha vontade..
Nos bastidores o Sistema comemora...rs
Ano 2116 - Início
Eles me vigiam. Tento disfarçar que eu sei, mas sinto que eles me espreitam, meus olhos cada dia ficam mais injetados e avermelhados. Não durmo há meses, aliás, faz exatamente 122 dias que não me entrego aos lençóis macios de Morfeu. Os efeitos disso, tento esconder da melhor forma que posso, uso óculos escuros quase sempre, compro uma ou duas quinquilharias “da moda” todos dias para que eles não desconfiem do meu cartão apaticamente branco; meus dias são escalas de cinza como o céu morto sobre minha cabeça. Dia após dia tenho mais dificuldade em me adequar a este sonambulismo intragável que consome as pessoas. Todos parecem sonhar acordados com o Vazio. Mas não se engane, não é um vazio comum, é um Vazio mortal, daqueles que ocupa todos os remansos lentamente com inutilidades, com ilusão atrás de ilusão. Pelas ruas abarrotadas parece que ninguém percebe que há algo errado. Ninguém se dá conta de que os cordões umbilicais do Sistema estão fincando ininterruptamente em nossos vácuos, alimentos que satisfazem pura e unicamente o “Bloco”. Pelo contrário, todos só parecem estar em busca do paraíso prometido que o Mercado finge oferecer.
Sinto um inferno no peito ao ver que fomos tragados para o ventre do Sistema. Sim, hoje somos malditos adultos de proveta, regredidos a tal ponto que sinto a alma do mundo se estreitar, para dar lugar a este invólucro chamado corpo. Não sei exatamente quando começou esta metamorfose às avessas, pois hoje não temos mais acesso ao passado longínquo, mas afirmo, algo em nós se perdeu. Os olhares podem ser lustrosos, estimulantes e apressados, as bocas sorridentes, lânguidas e autômatas, mas sinto que jogamos fora o gomo vital para endeusarmos somente cascas.
Vago nas madrugadas pelas ruas sujas da cidade para evitar que o sono me entorpeça e me alcance com seus braços maternos e suas tetas cheias de sonhos quentes. Sonhar se tornou meu grande pesadelo. Se algum dia o sonho foi algo particular, um universo paralelo e secreto só nosso, na qual, podíamos viver nossas fantasias silenciosas provindas do inconsciente, hoje não mais. Aliás, confesso que antes destas noites insones nunca tive um sonho que não fosse monitorado, seqüenciado e recheado de desejos externos. Dormi minha vida inteira sem saber o óbvio – que os sonhos não mais pertencem aos sonhadores – mais sim ao Sistema.
O próprio sentido da palavra “sonhar” se tornou oco e estéril há muito tempo. Desde minha descoberta, não durmo, ou melhor, não sonho. Todas as semanas, escondido como um rato de esgoto vou a procura dos Chinas, no mercado negro e pago-lhes uma alta soma para conseguir as malditas cápsulas azuis que tomo na ânsia de descansar meu corpo e meu espírito, se ainda me resta algum. Com elas me sinto bem, ao menos parte, sinto uma paz inexplicável de estar sozinho comigo mesmo. É como se uma névoa envolvesse meu corpo, deixando-o dormente, estas drogas não me fazem apagar, mas sinto a sensação da minha mente ir se desligando aos poucos e deliciosamente, vou morrendo em vez de dormir, um resquício de paz, sem ninguém exigindo ou me incitando nada, sem as infernais marcas por todos os cantos, ou jogos fantasiosos que me faziam gozar numa eterna insatisfação; sem os miseráveis deuses paternais fantasiados de professores, políticos, religiosos ou pseudo-amigos nos “ajudando” a aceitar e gostar uma realidade ou de uma pessoa, sem aquele zumbido vindo dos horizontes ou das grades do sonho, que sempre ecoa - com acordes doces ou primitivos - valores e comportamentos adequados ao Sistema, não..não é nada disso, o liquido azul me oferece algo que nunca tive, não poderia descrever como bom ou ruim, somente um pseudo-descanso a olhos abertos, um apagão da minha realidade, um distanciamento de toda aquela mediocridade e fantasia louca vivida em dose dupla por nós. Só drogado desta maneira consigo fugir deles, porque a freqüência das minhas alucinações não estão no mesmo plano que o sonho. Mas se fujo deles o mesmo não acontece com meu corpo..no dia seguinte...(continuar)
Antes de contar minha estória, ou melhor, deste presente sombrio e sem alma na qual a da sociedade sobre-vive hoje, é preciso voltar ao passado, a data precisa de uma noticia de esquina dada em 2016. A pouco mais de um ano, remexendo o lixo que sobrou de uma encarquilhada biblioteca, em baixo de todo aquele pó escuro de folhas queimadas, - sem justa causa - que hoje eu sei, encontrei um porão, que, se não era secreto, se tornou, devido a uma feliz displicência dos encarregados de transformar um pedaço do nosso passado em fuligem, com suas lança-chamas. Em minha infância estas pareciam dragões ferozes a soltar jatos fumegantes em todas as estantes das inúmeras bibliotecas do país. Ainda me lembro que todas as mídias e nosso paterno presidente, diziam era para nosso bem, pois segundo eles os livros estavam infectados por cepas de microfungos mortais para os seres humanos.
Mas voltemos ao meu feliz encontro com aquela saleta tão preciosa. Lá estava eu, na pequena e abandonada biblioteca perto da minha antiga casa, um insone alfa-maior, que a três noites não dormia direito, ou melhor, sequer fechava os olhos. Antes de resolver me embrenhar dentro da noite, pensei até em tomar meus remédios para acalmar minha insistente amiga noturna – tais medicamentos eram dados de graça em qualquer posto de saúde – pois a muito que os grandes médicos diziam que a insônia deveria ser um mal do passado, e que este século prezava pelo sono “saudável” – Mas algo não me deixou tomar, talvez porque eu estivesse cansado demais para me entregar aos meus próprios desejos – que depois como irei explicar, jamais foram meus – ou simplesmente porque senti uma vontade estranha de entrar de novo na velha biblioteca que vi ir a baixo pelo fogo, quando era menino.
A imagem das labaredas tomando conta das inocentes paredes brancas, das folhas se retraindo como se estivessem sentindo uma enorme e impiedosa dor invadiu-me naquela noite, com a mesma força de quando era aquele menininho de 6 anos, na frente da multidão olhando hipnotizado e sem entender o motivo daquilo tudo. Mais do que assustado senti uma enorme pena do lugar ou quem sabe de nós mesmos. Um sentimento de perda e desesperança me tomou naquele dia, sem que eu conseguisse explicar. São poucas as lembranças deste episódio da minha vida, aliás, parece que ninguém, nem mesmo meus pais guardaram muita coisa daquela triste despedida dos livros.
Depois do estranho evento, as editoras pararam aos poucos de produzir livros, mas ninguém parecia sentir muita falta dos mesmos, porque a venda de e-books, ipad, ipounds...avançava e se tornava cada vez mais popularizada e desejada. Mas enfim, meu passado se esconde atrás de muros e mais muros que foram cimentados pelo lixo mercadológico que eles me impuseram ao longo da minha vida. Em minha ânsia por encontrar algum resquício do passado, ou ao menos para folhear algo, que não fosse o maldito jornal eletrônico, feito de frias películas composta por transistores e circuitos transparentes, que desde 2089 tomaram conta do mundo por ser mais prático, moderno e seguro às pessoas depois do “incidente dos fungos esfomeados de cultura”...
B.G