sexta-feira, 27 de maio de 2011

Um dia vou contar a minha filha que tive um vô pescador!


Vô sinto falta do seu pé de valsa..em seus braços até eu, meio sem jeito, virava bailarina. O dia era uma criança, como o senhor na pista de dança, já vi quase o sol raiar e o senhor lá..a bailar. Como o senhor se foi antes de me ensinar o segredo daquela peixada que tanto amávamos! Como o senhor se foi antes me ensinar o nome de todos os peixes que pescávamos em Aruanã.. Ah vô não conheci ninguém até agora que tenha mais energia e alegria que o senhor, lá está o senhor carregando a canoa para a beira do rio, lá vai vovô arrumar a velha caixa d’agua depois de mais uma tarde a pescar, lá vai o Guima comprar picolé para a criançada, lá vai ele para todas as direções! Vô vô..como o senhor se foi sem eu saber se aprontava ou não com as cartas na mão, como se foi sem eu dizer um trilhão de vezes que te amava, como se foi sem me contar direito a história daquela espaçonave! Como vô o senhor foi assim tão derrepente..sem me contar mais uma das suas mil e uma aventuras! Lembro de tantas estórias..da mordida da piranha, da loucura do gigante ‘crocodilo’ que quase virou o barco, do pirarucu que comia crianças, do delicioso bode do Piauí..aliás tudo parecia ser mais gostoso nesse Estado..o que meu paladar parecia sempre desconfiar, já que não existe comida mais gostosa do que a da vovó! Ah vô o senhor foi um tratante em nos deixar! Com quem que vou fazer a orquestra na hora do almoço? Meu prato e copo aqui pedem a batida de uma colherinha..que tão só faço agora. Quem vai dar um trocado para todas as crianças da cidade comprarem um picolé? Como deitar em uma rede sem o senhor está ali numa outra? Como dançar forró sem o alfa-maior? Como comer doce de leite e pudim sem o senhor? Como fazer palavras cruzadas e não rir ao lembrar que o senhor olhava as respostas tão cedo à gente saísse da sala? Como passar pelo quarto da vovó de noite e ver que o senhor não está lá do ladinho dela? Tratante mil vezes tratante..pra quem daremos agora todos aqueles perfumes franceses deliciosos? Como me contentar a procurar o segundo homem mais cheiroso do mundo? Que droga vô..como vou sentir falta das suas mãos, sempre me intrigou a maciez delas! Vou sentir falta da sua mão entrelaçada com a da vovó, vou sentir falta até dos seus resmungos descabidos. Vou sentir falta dos seus olhos com risquinhos de mel. Vou sentir falta do seu relógio de pulso sempre largo demais, vou sentir falta de passar as mãos no seu cabelo, de apertar o seu nariz, de te dar cosquinha e levar uma bronca. Vou sentir falta da sua caneca, dos seus dois dedinhos de leite, vou sentir falta do seu sorriso um tanto malandro! Vou sentir falta das suas blusas listradas, do seu dedo machucado e das suas mãos cruzadas! “Sarinha tira a perna do vô encima da outra, pois faz mal para a circulação”, “Vô bebe mais água!”, “Vô como o senhor não gosta de torta?”, “Vôzinho como o senhor vem para a praia e não entra no mar! (o rio sempre foi seu amor..)”, “Vô porque os doidinhos parecem gostar tanto do senhor?”, “Vô aonde tem camaleão aqui?” Ah vô..as pessoas que não te conheceram perderam viu! Hoje vou procurar uma estrela bem brilhante no céu..
E o senhor pegue um peixão daqueles para mim!
T.a hoje e sempre.
B.

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